O Ministério dos Viciados em Série adverte: este texto contém spoilers da primeira temporada de Westworld
Logo no início do primeiro episódio de Westworld ouvimos a seguinte pergunta: Você alguma vez questionou a natureza de sua existência? - Destinado a Dolores (Evan Rachel Wood), o questionamento retorna algumas vezes durante a série. E é ele que vem logo em mente quando Felix (Leonardo Nam) percebe que, se quem ele julgava ser humano não é, quem ele mesmo seria?
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A natureza da existência, humana ou robótica, está no centro
A partir daí, acompanhamos diversas jornadas em busca da verdade. As tramas não fazem distinção de importância entre robôs e humanos, muito menos identificam mocinhos, vilões ou protagonistas. Todos são o centro de suas respectivas narrativas.
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Assim temos a administração do parque tentando lidar com os problemas do dia a dia, o conselho executivo tentando ter mais controle de sua empresa e o criador Dr. Ford (Anthony Hopkins) protegendo seu legado.
Do lado de fora, no parque, dois turistas exploram a fundo a experiência de imersão. O principiante William (Jimmi Simpson) e o veterano Logan (Ben Barnes) não serão mais os mesmos depois de percorrerem quase todo o espaço. A anfitriã Dolores e o misterioso Homem de Preto (Ed Harris) também estão em uma busca, que mais tarde se mostra mais semelhante do que imaginamos. Enquanto isso, Maeve (Thandie Newton) começa a ter consciência de sua existência e resolve conhecer seus criadores, para desespero do funcionário Felix.
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A pegadinha? A forma como estas histórias interferem e influenciam uma na outra. A estrutura em que são apresentadas transformam a narrativa em uma experiência única. Os criadores Lisa Joy e Jonathan Nolan brincam com linhas temporais sobrepostas, encaixadas e difíceis de distinguir. Eles brincam com nossa percepção, já que por vezes mudamos de ponto de vista e, como meros espectadores, podemos ver apenas o que o anfitrião é “programado” para ver. Quem mais ficou aflito por Bernard (Jeffrey Wright) não conseguir ver uma certa porta?
O resultado é um trabalho de construção de narrativa complexo e belo, que mantém o interesse do público mesmo quando suas teorias, especuladas na internet por semanas, se provam verdadeiras. Não surpreende pelo que é, mas pela forma que é. Repetições, referências, detalhes imperceptíveis à primeira vista e rimas narrativas dão as pistas sutis (ou não) deste intricado mundo - o que torna a reprise da temporada uma experiência a ser considerada.
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Você vai notar coisas que não vira antes, ou entender a importância de certos detalhes, agora que conhece toda a jornada. Mais ou menos como os robôs ao começarem adquirir consciência e compreender sua natureza.
Como se um roteiro impecável e bem amarrado não fosse o suficiente, a série tem um requinte de produção impressionantes. Belas locações, figurinos que compõem (e às vezes até identificam e situam) personagens. Direção de arte caprichada e efeitos especiais que não pouparam despesas (confira a impressionante versão jovem do Dr. Ford).
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O elenco de peso completa o pacote. Hopkins compõe um criador/deus daquele mundo que vai entrar ao lado de Hannibal Lecter entre os ícones de sua carreira. Evan Rachel Wood, Thandie Newton e Jeffrey Wright entregam atuações cheias de nuances que impressionam tanto quanto a habilidade de oscilar entre a versão "mais humana" dos anfitriões e o robótico "modo de análise".
Pausa aqui para mencionar os impressionantes trabalhos de Michael Wincott, intérprete de um dos mais antigos robôs do parque. Old Bill, seu personagem, move-se impressionantemente como aqueles animatrônicos de parques de diversões do mundo real. E de Louis Herthum, o Abernathy original, que com apenas um surto nos intrigou por uma temporada inteira.
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De volta ao elenco principal, a transformação de William em Homem de Preto (Ed Harris) impressiona, mesmo que todos já tivessem descoberto a tal reviravolta. James Marsden, Rodrigo Santoro, Luke Hemsworth, Sidse Babett Knudsen, Angela Sarafyan, Shannon Woodward, Leonardo Nam, Ingrid Bolsø Berdal, Talulah Riley, Tessa Thompson e Simon Quarterman completam o elenco afinado.
Comparado a um Blade Runner no Velho Oeste, Westworld traz de volta diversos questionamentos da ficção cientifica sobre inteligência artificial, seus limites e a relação com seus falhos criadores humanos. Tudo isso de uma forma inteligente, sem subestimar o espectador e ainda acessível para o grande público. Nem precisava responder todos os mistérios daquele mundo, mas a série vai além e nos situa num universo ainda mais abrangente e cheio de impasses para a segunda temporada.
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Inspirado pelo filme escrito e dirigido por Michael Crichton em 1973, Westworld dá uma abordagem atual e explora melhor as possibilidades do argumento. É a melhor surpresa na TV de 2016. Que venha logo não apenas a segunda, mas as quatro temporadas já programadas!
Texto originalmente publicado no blog Ah! E por falar nisso...
1 Comentários
[…] acaba de chegar ao final de sua primeira temporada (leia a crítica). Além de muitos dilemas e conceitos de ficção-científica, a série da HBO trouxe um modelo […]
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